SETOR LOGÍSTICO EM BUSCA DE PROFISSIONAIS CAPACITADOS
A demanda por profissionais especializados na área de logística não pára de crescer no Brasil e tem gerado uma carência de executivos no segmento. O resultado é a migração de profissionais de outras áreas para compensar a deficiência e um aumento real de salários 20% acima da média geral de remuneração no mercado nacional para os atuais gestores de supply chain. A empresa Keseberg & Partners, associada ao grupo alemão Kienbaum, um dos maiores do mundo no setor de consultoria na área de recursos humanos e recrutamento de executivos, já sentiu os efeitos do fenômeno. Segundo o sócio-diretor, Axel Lundgren Werner, o volume de projetos de "executive-search" na empresa cresce em um ritmo superior a 40% ao ano. Werner explicou que a insuficiência de profissionais especializados em logística se deve às novas exigências do setor, tais como a necessidade de rápida atualização e a mudança no perfil dos executivos que atuam no mercado - hoje bem mais sofisticado e eclético do que alguns anos atrás. "Eles precisam de um nível de atualização muito maior do que executivos de qualquer outra área. Isso sem contar o recente enriquecimento de funções para o mesmo profissional", explicou.
MUDANÇAS EXIGEM CONHECIMENTOS ABRANGENTES - O perfil desse profissional, segundo Werner, mudou consideravelmente nos últimos anos no sentido de que antes lhe eram atribuídas tarefas extremamente físicas, tais como definição de rotas, transporte, negociações de fretes e com fornecedores em geral. "Hoje se tornou essencial um profissional de logística com conhecimentos abrangentes para gerar valor à empresa", destacou. O empresário lembrou que o surgimento da internet como uma nova ferramenta de compra e venda e a disponibilidade de inúmeras estratégias de marketing e de tecnologia da informação contribuíram para a mudança de perfil. As antigas responsabilidades não deixaram de existir, mas foram somadas às novas atribuições. "O especialista em logística passou a ser o diferencial de muitas empresas na geração de lucro, redução de desperdício, corte de custos financeiros com a diminuição ou eliminação de estoques onerosos, ganhos de mercado, desenvolvimento de produtos, design e até na expansão internacional", disse o sócio-diretor da Keseberg & Partners. E é essa maior complexidade das obrigações que exige profissionais altamente preparados.
DEFASAGEM NA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL - "Nós não temos encontrado pessoas plenamente preparas para a função", disse Sandra Sabaté, gerente de Qualidade e Recursos Humanos da McLane do Brasil. "E isso, em todos os níveis, desde operadores de empilhadeira até analistas de logística", comparou. Para driblar essa defasagem, a empresa procura profissionais cujo perfil mais se enquadra na tarefa a ser executada e realiza treinamentos. Mesmo recorrendo a universitários, como os de engenharia de produção, a McLane do Brasil chega a treinar, por até seis meses, o novo profissional a fim de formatá-lo às exigências do mercado. Nelson Ludovico, PHD em Comércio Exterior e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defendeu que essa deficiência de qualificação se deve à falta de cultura profissional brasileira na área. "Até pouco tempo nem sabíamos o que era logística", disse. O professor acredita que o Brasil não contava com uma boa infra-estrutura logística nem estava preparado para transformações tão rápidas e de impacto, como a abertura do mercado e a privatização dos portos, que começaram cerca de 15 anos atrás. Ludovico também citou a ausência de cursos MBAs em logística. Já a gerente da McLane chega a atribuir a deficiência na formação de bons profissionais na área até à qualidade do ensino médio e dos professores. Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Logística (Aslog), Adalberto Panzan, a responsabilidade da falta de qualificação deve ser distribuída a todos os segmentos envolvidos, desde as instituições de ensino até o mercado que não é exigente. E o executivo da Keseberg & Partners analisou a situação como resultado da demanda por qualificação de profissionais multifuncionais ser muito recente. "Não houve tempo hábil para uma melhor qualificação", salientou Werner.
SOLUÇÕES - Na tentativa de garantir maior qualificação de profissionais na área, a Associação Brasileira de Logística (Aslog) lançou, em 2006, um programa de certificação. "É uma contribuição para esse mercado que não tem regulamentação nenhuma", disse Panzan. O profissional interessado em obter a certificação precisa ter, como requisito mínimo, o ensino médio e atuar na área. O programa, aberto ao mercado, não é uma exigência legal da área e é composto por cinco provas e entrega de um projeto prático. De acordo com o presidente da Aslog, o programa de certificação não só dá forma e parâmetros ao profissional da área quanto ao seu nível de conhecimento e qualificação, mas também concilia teoria com prática. "A grande novidade que estamos inserindo na área 'avaliações em logística' é a necessidade da entrega de um projeto prático. Trata-se de uma ação implantada pelo profissional de logística em sua área de atuação dentro da empresa onde trabalha", explicou.
PERSPECTIVAS - Segundo os especialistas na área, a tendência do mercado que absorve profissionais especializados em logística é de crescimento cada vez maior. "Trata-se de uma profissão moderna e esse executivo será cada vez mais requisitado com a busca pela otimização dos processos nas empresas", esclareceu o presidente da Aslog. Para Panzan, a demanda por profissionais multifuncionais, com capacidade para conversar e interagir com os diversos setores de uma empresa, tais como o fiscal, de compras e de vendas, só tende a aumentar. "A empresa vai ter nesse profissional uma reserva de tecnologia, agregação de novidades no processo e maior lucro nas operações com a diminuição dos gargalos logísticos", explicou. "Haverá crescimento significativo e valorização estratégica desse profissional, em especial nas indústrias de bens de consumo e automotivas. Isso porque ele reduz custo e diferencia a empresa, tornando-a competitiva", acrescentou Werner, da Keseberg & Partners. Para a gerente de RH, Sandra Sabaté, a concentração de diversas funções em uma só pessoa nas empresas automaticamente aumentará a necessidade de mais qualificação. Nelson Ludovico também aposta no aumento dessa demanda e faz um alerta. "A cultura logística está concentrada, atualmente, nos grandes centros econômicos do Brasil. Se não corrermos [com o processo de qualificação] poderá haver uma deficiência ainda maior na área", concluiu.
Fonte: NetMarinha - 25/04/2006 Autor: Natacha Amaral - Florianópolis
Abraços, Marcelo Alves
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