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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Futuro dos Navios Logísticos

Como referimos no inicio da matéria, no mundo que que resultou do fim da guerra fria, a capacidade de projecção de força das nações do mundo, parece ser uma das formas de aferir o nível da sua importância e afirmação.
A necessidade de dispor de forças anfíbias com capacidades múltiplas, parece estar a levar as marinhas mundiais à aquisição de navios logísticos ou do tipo LPD convencional, ou do tipo LHD com um maior convés para operações com maior numero de aeronaves de asa fixa.
O futuro dos navios logísticos, é cada vez mais influenciado por essa necessidade de demonstrar capacidade para projectar poder.

Os Estados Unidos deverão completar a classe de LPD’s «San Antonio» que deverão complementar os LHD’s mas na marinha daquele país, estão a ser discutidos novos conceitos que poderão levar o conceito de projecção marítima a novos níveis.

Juntamente com as actuais navios logísticos, que cada vez terão uma longevidade maior, os Estados Unidos estão a estudar a possibilidade de construir grandes bases flutuantes, que podem ser rebocadas para as proximidades de áreas em conflito. Essas bases, poderão servir de porto para navios de transporte do tipo RoRo (Roll on Roll off) que podem transportar os meios e equipamentos até relativamente perto da costa. Os navios de apoio logístico voltarão assim à sua função de navios de desembarque, podendo efectuar operações de desembarque e voltar para a sua base flutuante, voltar a carregar tropas e material e voltar rapidamente ao ponto fulcral de desembarque.

Com este tipo de equipamento, os Estados Unidos poderão aumentar a utilidade dos seus navios anfíbios, multiplicando a sua capacidade de desembarque, sem aumentar o numero de navios.

Outros países porém, não deverão dispor dos recursos quase ilimitados do orçamento norte-americano, e deverão voltar-se para dois tipos de navio.
Um tipo de navio mais pequeno, sem a existência de doca interiores, mas com capacidade para transportar veículos de combate e militares a grandes distâncias.
Estes navios poderão ser mais ou menos sofisticados, e tanto podem ser baseados em navios militares com menos armamento, algo parecido com o projecto dinamarquês «Absalon» ou o projecto alemão «MRV», como podem ser baseados em cascos civis, dado se tratar basicamente de Ferrie-boats de grandes dimensões que necessitam de protecção de outros navios quer contra ameaças submarinas ou aéreas.
Eles só poderão ser utilizados quando as costas onde vão operar estiverem minimamente seguras, e só podem desembarcar o seu conteúdo caso ele seja leve e possa ser transportado por helicóptero ou então, caso a operação já à partida implique a existência de um porto marítimo com as condições para receber o navio.
O outro tipo de navio logístico que deverá continuar a ser considerado no futuro serão os actuais LPD, mas acima de tudo os navios do tipo LHD de coberta corrida.
Este tipo de navio, facilmente confundível com um pequeno porta-aviões têm uma considerável vantagem relativamente aos LPD convencionais (ver página sobre LPD).
Vários países europeus, têm os seus projectos para construir navios deste tipo.
A Espanha deverá ter o seu BPE a flutuar na segunda década do século e a Itália tem planos para lançar à água um navio idêntico, embora presentemente as atenções da marinha italiana estejam viradas para o novo porta-aviões.
A Grã Bretanha, com um numero de LPD’s com características civis (Royal Auxiliary) voltará a sua atenção para a capacidade dos seus dois futuros super porta-aviões, que fazem parte de um projecto inicialmente produzido em cooperação com a França.
Estaleiros europeus que já construíram navios do tipo LPD, apresentam agora alternativas para navios que obedecem ao conceito do navio com coberta corrida, como é o caso dos estaleiros holandeses Royal Schelde, com o seu projecto conhecido como Enforcer.
Os estaleiros da Holanda foram pioneiros no desenvolvimento dos LPD do tipo Rotterdam, mas interpretaram as necessidades das marinhas do mundo, tendo introduzido esta opção nos seus projectos, que embora partilhando em grande parte o casco e a configuração interna da doca, possuem uma superestrutura alternativa que difere conforme as necessidades dos potenciais utilizadores.

Outro estaleiro europeu, vendeu uma derivação do seu projecto de LHD para a Austrália, trata-se da espanhola Navantia, que somará assim três navios do tipo construídos.
Mais recentemente, o mais recente dos projectos de navio logístico, foi apresentado por outro concorrente europeu que se juntou concorrência.Trata-se de um novo navio do tipo LHD, que junta características que se encontram também nos LPD mas também nos navios RoRo. Trata-se do projecto dos estaleiros alemães do grupo Blohm+Voss.
Conhecido como MRD (Multi Role Dock) ou Doca multi-utilizações, o projecto alemão propõe um navio com um deslocamento menor que os navios holandeses, espanhóis, franceses ou italianos, conseguindo ao mesmo tempo e pelo menos aparentemente apresentar uma solução integrada com várias soluções. Ele pode ser armado com sistemas de defesa anti-aérea composto por lançadores verticais, como se tornará cada vez mais comum neste tipo de navios, mas ao mesmo tempo está preparado para quase qualquer tipo de operação logística de desembarque ou apoio a populações civis.

Este conceito foi já oferecido à África do Sul, país que também demonstrou interesse em adquirir um navio logístico e terá sido oferecido a Portugal para responder aos quesitos da marinha portuguesa.
Essa característica nota-se na plataforma traseira que pode ser utilizada como plataforma adicional para o transporte e descolagem de helicópteros, mas que pode igualmente ser utilizada para transportar contentores, sem alterar a estabilidade do navio.Ele pode por exemplo transportar um hospital de emergência instalado em contentores e leva-lo a qualquer área do mundo.

Apoio a populações civis

A utilização dos navios logísticos para o apoio de populações civis, é cada vez mais importante na opção das marinhas de guerra por este tipo de navios.Embora se trate de navios militares, equipados com armamento, eles são normalmente equipados com um hospital para um pequeno número de camas e podem ser utilizados para evacuação de civis de zonas em risco ou para apoio a populações civis em zonas sinistradas.

Processos Logísticos em Español


O vídeo é em espanhol mas da para entender muita coisa que se fala, caso você não tenha muito conhecimento desta língua.
Excelente para agregar mais conhecimento sobre logística.

CONFLITO NO ATLÂNTICO SUL - A Logística na Guerra das Malvinas

O conflito entre argentinos e britânicos pela posse das Ilhas Malvinas (ou Falklands) foi, em alguns aspectos, um confronto entre duas gerações de Forças Armadas. Por um lado, havia uma confiança na quantidade; do outro, na qualidade. Conscritos mal preparados e equipados lutando contra profissionais altamente treinados, dotados de equipamentos entre os mais modernos então disponíveis. A total falta de preparação logística contra a eficácia no apoio.

Certas guerras representaram um estopim para mudanças em outros exércitos nelas não envolvidos, pela coleta de ensinamentos e um estudo aprofundado posterior. A Guerra de Secessão influenciou a conduta de Caxias durante a Guerra da Tríplice Aliança; a guerra árabe-israelense de 1973 (Yon Kipur) fez nascer nos EUA os conceitos do que mais tarde seria conhecido como doutrina da batalha ar-terra (Air-land battle), empregada com sucesso contra o Iraque em 1991.

A guerra das Malvinas, até pela proximidade física, representou para o Exército Brasileiro a oportunidade de renovação doutrinária. Sem dúvida, os ensinamentos ali colhidos provocaram modificações importantes na estrutura organizacional e nas doutrinas de emprego do EB.

A análise do papel representado pela logística para ambos os contendores, com resultados diametralmente opostos, ainda hoje é fonte de ensinamentos e experiência.

Caracterização da Área

As Ilhas Malvinas (Falklands) ficam no Atlântico Sul, logo abaixo do paralelo 50ºS, a cerca de 740 km a leste da Argentina. As Ilhas Geórgias do Sul ficam a cerca de 1.400 km da leste das Malvinas e as Ilhas Sandwich do Sul, a cerca de 700 km a leste das Geórgias.

As Malvinas compreendem 2 ilhas principais e, aproximadamente, 200 ilhas menores, com uma área total de 8.704 km2 . As duas ilhas maiores, as Falkland Leste (Ilha Soledad) e Oeste (Gran Malvina), são separadas pelo estreito das Falkland ou San Carlos que, na sua parte mais estreita, tem 4,4 km. Stanley, a capital, rebatizada pelos argentinos como Porto Argentino, fica situada na costa leste da Malvina Leste e tinha, à época, 1.200 "kelpers", dos 1.800 que habitavam as ilhas.


A costa das Malvinas é irregular, com inúmeras pequenas e restritas praias. A parte mais elevada é a metade norte das ilhas, variando entre 400 e 700 m acima do nível do mar. A região interiorana á muito acidentada e difícil de ser atravessada, a pé ou por veículo. Havia, na época, somente 45 km de estradas pavimentadas nas ilhas. As poucas árvores existentes foram plantadas pelo homem.

O meio de transporte mais usado nas ilhas, havendo mais de 30 pistas de pouso espalhadas por elas, sendo que as 5 melhores permitem o pouso de aeronaves C-130 Hércules. O maior aeroporto é o da capital, com uma pista de asfalto de 1.250 m. Seguem-se em importância os da ilha de Pebble e o de Goose Green.

Nas ilhas predominam ventos fortes e temperaturas baixas. A temperatura média, no inverno, no período diurno, varia entre -7º C e 0º C. Em média, a precipitação pluviométrica é da ordem de 686 mm, espaçados uniformemente durante o ano, com queda de neve em cerca de 50 dias por ano. Os ventos sopram com 36 km/h, em qualquer época do ano, com mares bravios em torno das ilhas.

Rápida cronologia dos eventos


Em 02Abr82, as forças argentinas desembarcam nas Ilhas Malvinas. A operação aconteceu sem baixas entre os britânicos e kelpers, mas com uma baixa entre os atacantes, um Capitão de Corveta fuzileiro naval, atingido por fogo inimigo. Neste dia, a Grã-Bretanha alerta sua Frota e o Conselho de Segurança da ONU decide tratar da questão.

No dia seguinte, os argentinos informam oficialmente que as Ilhas Malvinas, Geórgias e Sandwich do Sul estão sob sua soberania. Londres adverte que aplicará sanções econômicas e resolve empregar uma Força Tarefa em ação punitiva ao Atlântico Sul. Embarcada junto com a FT, segue para a região de operações a 3ª Brigada de Comandos de Fuzileiros Navais, reforçada por 2 batalhões de fuzileiros. O Conselho de Segurança aprova a resolução 502, que exige a retirada argentina das ilhas e o início de negociações.

A Grã-Bretanha anuncia o bloqueio naval de 200 milhas em torno das Ilhas, enquanto a Comunidade Econômica Européia apóia as sanções britânicas. Mesmo com a intervenção diplomática norte-americana e do Papa, não se chega a uma solução negociada para o conflito.

Em 25Abr, já com o bloqueio naval operando, a Força Tarefa britânica reconquista as Ilhas Geórgias, sem resistência da guarnição argentina, que se rende.

O primeiro ataque aéreo britânico a Porto Argentino ocorre em 01Mai. No dia seguinte, os argentinos sofrem uma pesada baixa: o Cruzador Belgrano é afundado pelo submarino nuclear Conqueror, com um saldo de 323 vítimas. A partir daí, a esquadra argentina praticamente retira-se do conflito, recolhendo-se aos seus portos.

No dia 04 de maio, em meio a novas incursões aéreas inglesas contra Porto Argentino e Porto Darwin, aeronaves da Aviação Naval Argentina, equipadas com mísseis Exocet, atacam o destróier inglês HMS Sheffield, afundando-o.

Em 12Mai, partem da Grã-Bretanha, a bordo do transatlântico Queen Elisabeth, 3000 soldados da 5ª Brigada de Infantaria com destino ao Teatro de Operações.

O desembarque britânico dá-se em 21Mai, quando é estabelecida uma cabeça de praia em Porto San Carlos. As tropas britânicas da 3ª Brigada de Comandos Fuzileiros Navais, reforçadas pelos 2º e 3º Batalhões do Regimento de Pára-quedistas desembarcaram em 4 praias, antes do alvorecer, utilizando embarcações de desembarque e helicópteros. Fez-se largo uso de equipamentos de visão noturna, permitindo a rapidez da operação.

Um dos primeiros itens a serem desembarcados foram os mísseis antiaéreos Rapier, transportados por helicópteros Sea King para posições nas alturas que dominavam o local de desembarque.

Os combates aeronavais são bastante intensos, com fortes perdas de ambos os lados, destacando-se o afundamento da fragata inglesa Ardent. Estes combates prosseguem nos dias subseqüentes, com afundamento de outro destróier e de um transporte de tropas ingleses, o Atlantic Conveyor.

A oposição em terra foi fraca devido à total surpresa tática alcançada.

Após a consolidação da cabeça de praia, os ingleses iniciam o deslocamento para a conquista do objetivo final: Porto Argentino, em um movimento de pinça. O braço mais ao norte dirigia-se diretamente contra a capital, enquanto ao sul investem sobre as localidades de Darwin e Goose Green, com as finalidades de proteger o flanco sul britânico frente às guarnições argentinas nestas localidades e conquistar as pistas de pouso ali existentes, de onde operavam aeronaves Pucara.

Uma acentuada vantagem que os britânicos dispunham neste conflito era a utilização de equipamentos de visão noturna, que equipavam, inclusive, alguns de seus helicópteros. Tal fato fez com que optassem pela realização de ataques noturnos durante as operações, já que os argentinos não dispunham destes meios.

O ataque contra Darwin foi desfechado às 0200 horas do dia 28, contando com eficiente apoio de fogo naval. Dez horas mais tarde, a posição argentina caía, prosseguindo os britânicos contra a forte posição de Goose Green. O ataque foi apoiado por potente fogo de morteiros e mísseis Milan, enquanto os argentinos utilizavam seus canhões antiaéreos 35mm contra a tropa atacante. No dia 29, os cerca de 1.400 argentinos que guarneciam a posição renderam-se ao batalhão inglês de cerca de 600 homens.

O braço de norte prosseguia em terreno de muito difícil trânsito, enfrentando pequena resistência, chegando a conquistar Teal Inlet, de onde as tropas poderiam passar a ser supridas por mar. Em 04 Jun, era conquistada a posição de Monte Kent, de onde poderia ser desfechado o ataque final contra Porto Argentino.

Aparentemente, os argentinos concentravam sua defesa na capital das Ilhas, onde poderiam oferecer uma última e desesperada resistência aos britânicos. Estes logo descobriram que a estratégica região de Bluff Cove e Fitzroy havia sido abandonada. Cientes da importância desta região, os britânicos enviam uma pequena força para ocupá-la, por helicópteros, tentando reforçá-los com um batalhão da 5ª Brigada, enviado por mar. Posteriormente, seguem outros navios com reforços e suprimento, especialmente munição.

Em 08Jun, uma súbita melhora no tempo permite aos argentinos que realizem uma incursão aérea contra os navios que apoiavam este desembarque, afundando uma fragata e os transportes de tropas Sir Galahad e Sir Tristan, causando severas baixas. Os argentinos, no entanto, não exploraram a desorganização ali existente entre as forças britânicas, empenhadas no salvamento às vítimas do afundamento dos navios de transporte, deixando de aproveitar uma excelente oportunidade.

Em 12Jun, enquanto as tropas britânicas avançam rumo a Porto Argentino, faz-se a última vítima dos mísseis Exocet: o HMS Glamorgan.

O plano para o ataque final contra Porto Argentino era relativamente simples: uma sucessão de ataques noturnos, levados a cabo ora pela 3ª Brigada, ora pela 5ª Brigada cercariam o inimigo, levando-o ao colapso final.

Em 13Jun, os ingleses penetram nas últimas defesas argentinas, em Porto Argentino. No dia seguinte á assinado o cessar fogo e a rendição argentina.

As forças terrestres envolvidas

1) Argentina

- Brigada de Infantaria III
- Comando e Companhia de Comando e Serviço
- Regimento de Infantaria 4 (RI 4)
- Regimento de Infantaria 5
- + 2 Seções da Companhia de Engenharia de Combate 3
- Regimento de Infantaria 12
- Grupo de Artilharia 3, reforçado com canhões 155 mm
- Companhia de Comando 3
- Companhia de Saúde do Batalhão Logístico 3 (40 homens)
- Elementos da Companhia de Material Bélico do Batalhão Logístico 3 (20 homens)
- Brigada de Infantaria Mecanizada IX
- Regimento de Infantaria 8 (+)
- Regimento de Infantaria 25
- Companhia de Engenharia 9
- Elementos do Batalhão Logístico 9
- Brigada de Infantaria Mecanizada X
- Comando e Companhia de Comando e Serviços
- Regimento de Infantaria Mecanizado 3
- Regimento de Infantaria Mecanizado 6
- Regimento de Infantaria Mecanizado 7
- Companhia A do regimento de Infantaria I (188 homens)
- Esquadrão de Exploração de Cavalaria Blindada 10 ( com 12 viaturas Panhard)
- Companhia de Engenharia Mecanizada 10
- Companhia de Comunicações Mecanizada 10
- Elementos do Batalhão Logístico 10

- Companhia de Comandos 601
- Companhia de Comandos 602
- Grupo de Artilharia de Defesa Aérea 601
- Grupo de Artilharia Aerotransportada 4
- Bateria do Grupo de Artilharia de Defesa Aérea 101
- Companhia de Engenharia de Combate 601
- Elementos do Batalhão de Comunicações 181 (44 homens)
- Batalhão de Aviação do Exército 601 (19 helicópteros)
- Elementos da Companhia de Abastecimento e Manutenção de Aeronaves 601
- Hospital Militar "Comodoro Rivadavia"
- Hospital Militar "Malvinas"
- Seção de Inteligência "Malvinas"
- Centro de Operações Logísticas
- Elementos da Companhia de Polícia Militar 181 (60 homens)

A constituição do que se chamou Guarnição Militar das Malvinas (GMM) chegou a contar com cerca de 10.000 homens, distribuídos em 4 postos: Porto Argentino, com cerca 7.100 homens, Goose Green-Darwin, Howard e Baía Fox, cada uma destas com cerca de 930 homens. Estavam assim distribuídos:

Os primeiros elementos a chegarem às Ilhas pertenciam à Brigada de Infantaria IX e ao Regimento de Infantaria de Marinha 2, que foi substituído após a ocupação pelo RI 25. A partir de 12 de abril, a Brigada de Infantaria X foi enviada em reforço à guarnição. Posteriormente, o Comando do Exército decidiu enviar a Brigada de Infantaria III para compor seus meios nas Malvinas

2) Grã-Bretanha

- 3ª Brigada de Comandos (Fuzileiros Navais)
- Comando - 40º, 42º e 45º Batalhões de Comandos
- 3º Batalhão de Pára-quedistas (Exército)
- 29º Regimento de Artilharia
- 59ª Companhia de Engenharia
- 49ª Companhia de Explosivos e Destruições (Exército)
- Regimento Logístico
- 148ª Bateria de Observação Avançada de Artilharia Naval
- Bateria T do 12º Regimento de Defesa Aérea (Exército), com 12 lançadores de mísseis Superfície-ar Rapier
- Pelotão de Reconhecimento Médio (Exército), com 7 viaturas blindadas: 2 Scorpion,4 Scimitar e um Samson
- Companhia de Quartel-General e Comunicações
- Esquadrão Aéreo (helicópteros Gazelle e Scout)
- 845º e 846º Esquadrões Aeronavais (helicópteros Sea King)
- Turma de Observação Avançada do 4º Regimento de Artilharia de Campanha (Exército)
- Destacamento de Ligação de Retaguarda do 30º Regimento de Comunicações (Exército)
- 2ª, 4ª e 6ª Seções SBS - Special Boat Service (Forças Especiais da Marinha)
- Equipe de Guerra na Montanha e no Ártico (FN) - Destacamento Logístico de Barcaças de Desembarque e Meios Flutuantes
- Pelotão Y de Comunicações - Equipe de Apoio Cirúrgico (Marinha)
- Seção do 19º Batalhão de Saúde (Exército)
- Banda de Música (FN), também com missão de padioleiros
- 5ª Brigada de Infantaria (Exército)
- Comando
- 1º Batalhão do regimento de Guardas Galeses
- 2º Batalhão do Regimento de Guardas Escoceses
- 2º Batalhão de Pára-quedistas
- 1º Batalhão do 7º Regimento de Fuzileiros Gurkhas
- 4º Regimento de Artilharia de Campanha
- Duas Seções do 32º Regimento de Artilharia de Foguetes Dirigidos
- Turmas de Observação Avançada do 49º Regimento de Artilharia
- 36º Regimento de Engenharia
- 9ª Companhia de Engenharia Pára-quedista
- Destacamento do 2º Regimento de Controle de Portos
- 56º Esquadrão do Corpo de Aviação do Exército (helicópteros Gazelle e Scout)
- 407º Batalhão de Transporte
- Elementos do 17º Regimento de Portos
- 16º Batalhão de Saúde
- 81ª Companhia de Intendência
- Destacamento de Lavanderia e Padaria do 9º Batalhão de Intendência
- Elementos da 421ª Companhia de Explosivos e Destruições - 10ª Companhia de Manutenção Avançada
- 160ª Companhia de Polícia do Exército
- 66ª Pagadoria de Campanha
- Destacamento de Relações Públicas

- Força de Apoio
- 12º Regimento de Defesa Aérea
- 21ª Bateria de Artilharia Antiaérea
- Destacamentos de Engenharia, Intendência, Comunicações, Correios, Controle de Movimento
- Elementos de SAS
- Special Air Service (Forças Especiais do Exército)
A logística britânica

Um dos aspectos mais relevantes do conflito foi o extraordinário esforço logístico desenvolvido para apoiar as operações pelos britânicos. A Força Tarefa foi capaz de operar, com elevado grau de eficiência, a cerca de 15.000 km de suas bases principais. A base mais próxima, Gibraltar, dista mais de 11.000 km. Mesmo sua base mais avançada, na ilha de Ascensão, encontram-se a, aproximadamente, 7.400 km das Malvinas.

A 3ª Brigada de Comandos Fuzileiros Navais, embora constituísse uma força de intervenção rápida britânica, foi pega despreparada para a missão de retomar as ilhas invadidas pelos argentinos.

Discussões políticas adiaram a emissão de uma ordem de alerta para a GU. Seu comando e EM participavam de um exercício da OTAN na Dinamarca no final de março, quando os primeiros informes sobre a provável invasão argentina chegaram a Londres. A ordem de partida somente chegou quando as Ilhas já tinha sido tomadas.

Não havia planos de operação que atendessem à nova situação. Para uma brigada de FN isto pode vir a constituir-se em grande óbice, já que o carregamento nos navios de transporte deve atender a necessidades táticas, ou seja, o carregamento deverá ser feito por frações constituídas. Homens, equipamentos e suprimentos devem viajar juntos, possibilitando que estejam prontos para o combate ao desembarcarem. Assim, a Brigada teve de adotar um plano existente, destinado a operações no norte da Noruega, para orientar seu embarque e carregamento.

Além disso, a Brigada teve de competir com a própria Marinha e elementos da Força Aérea embarcados por espaço para transportar o suprimento necessário para o distante TO. Este constituía-se na Reserva de Manutenção de Guerra, equivalente a 30 dias de suprimento de todos as classes, além de uma dotação orgânica de 2 dias de munição e 5 dias de ração.

Dois outros problemas surgiram durante o embarque: a necessidade de rapidez e as novas unidades que foram adidas à Brigada de Comandos, oriundas do Exército. Com isto, o carregamento não seguiu a ordem ideal. Como solução, decidiu-se que as cargas seriam reconfiguradas em uma rápida parada da frota na Ilha de Ascensão, a meio caminho das Malvinas.

Uma dos grandes feitos da Marinha Britânica foi a mobilização e posterior conversão para a guerra de navios mercantes. Estes representaram um importante acréscimo à capacidade de transporte de carga e pessoal e à prestação de apoio logístico, como navios-oficinas e navios-hospitais. No total, foram empregados 26 navios de guerra e 54 mercantes modificados, com 25.000 homens a bordo.

Todos os itens de suprimento previstos de serem empregados tinham de ser enviados por uma linha de suprimento de 8.000 milhas de comprimento. Somente para atender às demandas da Marinha, foram embarcados 900.000 tipos de itens de suprimento. A estes, tinham de ser adicionados os itens destinados às tropas em terra.

A passagem da frota pela Ilha de Ascensão foi aproveitada para o remanejamento da carga entre os navios, procurando-se a melhor configuração para o combate. Nesta ocasião, os planos operacionais já estavam bastante adiantados, com algumas conclusões:

- seria procurada a vitória aérea e naval antes do desembarque, o que daria algum tempo a mais para a tropa se preparar em Ascensão;

- o desembarque seria realizado na Ilha Soledad (Falkland Leste), em local a ser definido após reconhecimentos;

- a Brigada de Comandos deveria ser reforçada com novos meios, chegando a um efetivo de 5.500 homens (para tal, recebeu mais um batalhão pára-quedista do Exército);

- com as forças argentinas nas Ilhas chegando a um total de 10.000 homens, dos quais se acreditava que cerca de 7.500 estavam na região de Stanley (porto Argentino), no mínimo outra brigada seria necessária para que os britânicos diminuíssem sua desvantagem numérica. Esta segunda brigada seria a 5ª Brigada de Infantaria, estacionada no Reino Unido.

O conceito logístico da operação baseava-se na manutenção dos suprimentos a bordo dos navios logísticos na área da cabeça-de-praia, de modo a economizar tempo na descarga e evitar a existência de um grande depósito em terra firme. O espaço em terreno firme era bastante disputado; desta forma, foi decidido que as instalações logísticas não teriam prioridade no desembarque, utilizando ao máximo o "flanco marítimo", ou seja, o suprimento pelo mar. Isto, de certa forma, impedia grandes movimentos de tropas longe do litoral.

Como parte da reconfiguração, o Regimento Logístico carregou os navios de desembarque logísticos Sir Galahad e Sir Percival com dois dias de suprimento para toda a brigada de munição, combustível, rações e outros itens de alto consumo (um dia de suprimento para a brigada eqüivalia a 95 ton). Outros dois navios armazenavam mais 20 dias de suprimento, sendo que um deles seria deixado mais distante da Zona de Combate, garantindo um relativo escalonamento em profundidade e segurança.

O SS Canberra foi designado como Posto de Triagem principal para a Brigada; as baixas seriam evacuadas para ele por helicóptero e, se necessário, seriam dali evacuadas para o navio-hospital SS Uganda. No entanto, um posto de triagem avançado seria desdobrado em terra firme, capaz de reter baixas por até 6 horas.

No início de maio, o comboio com a tropa da 3ª Brigada embarcada seguiu rumo às Malvinas. A 5ª Brigada zarparia da Inglaterra poucos dias depois.

O comando da brigada, após decidir-se pelo local de desembarque, no estreito de San Carlos, designou a Baía Ajax para a sua Área de Apoio Logístico, basicamente por imposição do terreno, já que ali era o local que melhor permitiria o desdobramento das suas instalações logísticas pela existência de espaço com solo firme e construções abandonadas que poderiam ser empregadas.

Em 19Mai, foi confirmado que o desembarque seria realizado às 02:30 h de 21Mai.

Os desembarques ocorreram sem problemas, somente com alguns atrasos. Não houve oposição argentina em terra e todos os objetivos estavam seguros no meio da manhã. Contudo, o crescente número de ataques aéreos levou os britânicos à decisão de enviar todos os navios considerados não essenciais para fora do Estreito de San Carlos, rumando bem para oeste. Assim, a decisão inicial de manter o máximo possível do suprimento embarcado teve de ser modificada, desembarcando-se uma razoável quantidade na AApLog. Da mesma forma, o Canberra teve de ser afastado, não podendo funcionar como P Trig para a Bda. De qualquer forma, os ataques argentinos concentraram-se nos navios de guerra; nenhum dos mercantes foi atingido. Caso o fossem, poderia ter havido uma séria dificuldade para a prestação do Ap Log.

A partir desta data, os navios logísticos somente eram autorizados a aproximarem-se à noite para desembarcarem suas cargas. Helicópteros não eram autorizados a operarem nestes navios à noite, o que fez com que o movimento navio-terra somente fosse realizado por intermédio de pequenas embarcações, o que consumia bastante tempo. Além disso, nem sempre era fácil localizar um item específico nos navios, o que tornava a tarefa de reabastecimento lenta e frustrante para os logísticos.

A distribuição de combustível foi um problema nos primeiros dias após o desembarque. O equipamento destinado a receber o combustível a granel dos navios e distribuí-lo aos usuários não pôde ser desembarcado, exigindo uma série de improvisações. Tanques flexíveis foram amplamente utilizados, assim como camburões. Além dos helicópteros, que consumiam 50.000 galões de combustível para aviação por dia, os geradores dos Rapier e as viaturas "mulas mecânicas" consumiam grande quantidade de diesel diariamente.

A falta de meios de transporte para o suprimento era outro grave problema. As hipóteses de emprego da brigada previam a existência de uma rede rodoviária capaz de permitir a distribuição de suprimentos por caminhões; helicópteros seriam utilizados em casos muito especiais. Agora, eles eram o único meio de transporte capaz de distribuir o suprimento. E não estavam sob o controle do Regimento Logístico, podendo ou não ser empregados nesta missão. Para complicar ainda mais, o Regimento não fazia parte da rede de controle de vôo, de maneira que tornou-se bastante difícil coordenar as missões com as aeronaves.

O suprimento de munição, especialmente para canhões, tornou-se a maior prioridade, superando as rações, combustível ou outros equipamentos. Muitas unidades viram-se com falta de rações, sacos de dormir ou uniformes de muda ante a impossibilidade de mover-se estes itens à frente por via aérea.

Estas limitações iniciais impediram um avanço imediato em direção a Porto Argentino, até que a situação do suprimento se normalizasse na cabeça-de-praia e mais helicópteros chegassem. Um ataque a posições mais fortemente defendidas dependeria de grande quantidade de munição, o que não estava ainda disponível.

Neste sentido, o afundamento do Atlantic Conveyor em 25Mai representou uma enorme perda. O navio transportava quatro helicópteros de transporte Chinook e cinco Wessex. Além disso, o navio levava material de acampamento para toda a tropa desembarcada. Isto, se por um lado dificultava a aceleração do ritmo das operações, por outro lado tornava imperativo a antecipação do fim do conflito, já que o tempo estava piorando com a chegada do inverno e a tropa estava desabrigada.

O apoio logístico ao ataque contra Darwin - Goose Green foi parcialmente interrompido por um ataque aéreo argentino à AApLog, que não dispunha de adequada proteção antiaérea, matando 7 homens e ferindo outros 32. Em termos logísticos, a maior perda foi de munição: 200 tiros de morteiro 81 mm e 300 tiros de 105 mm que aguardavam o transporte para a frente. Além disso, aviões Pucara argentinos atacavam as linhas de suprimento durante todo o dia. A conseqüência foi a falta destas munições em momentos cruciais da batalha, a primeira de grande vulto travada nas ilhas.

A batalha de Goose Green demonstrou que as taxas de consumo de munição nas quais o planejamento da Brigada tinha se baseado tinham sido irrealisticamente baixas. O consumo das armas de pequeno calibre tinha sido quatro vezes superior ao previsto, enquanto o das munições 105 mm e 81 mm, cinco vezes. Este consumo equivalia a cerca de 25% do previsto para conflitos de grande intensidade (como os contra as forças do Pacto de Varsóvia). Por sorte, os logísticos previram esta possibilidade, aumentando deliberadamente os estoques transportados para a Zona de Combate.

Com o avanço das operações e a conquista de Teal Inlet, os britânicos tiveram a oportunidade de cerrar o apoio logístico, desdobrando uma área de apoio logístico avançada naquela localidade.

A situação logística da 5ª Brigada de Infantaria, que chegou em 02 Jun, era menos satisfatória. Seus estoques estavam baixos e as organizações de apoio resumiam-se a duas companhias de manutenção. A brigada não levara meios para a distribuição de suprimentos.

Seus problemas logísticos nasceram da incerteza sobre sua ida para o Teatro de Operações. A hipótese de emprego para a qual a brigada era preparada referia-se "Missões de Intervenção", um eufemismo que se referia às ações limitadas em tempo e espaço destinadas a salvaguardar os interesses de nacionais britânicos em países em crise. Uma missão de resgate e proteção, que não envolvia grande necessidade de duração na ação. Assim, seus meios logísticos eram naturalmente limitados. Outra limitação nasceu das normas britânicas para o transporte em navios mercantes (a brigada foi transportada no Queen Elizabeth II), que impedia o transporte de munição e combustível na quantidade e na conformação desejáveis para sua configuração para o combate. Finalmente, houve uma indefinição de sua missão, na ocasião do embarque. As projeções eram de que a brigada não chegaria a envolver-se no combate, mas cumpriria papel de ocupação militar da Ilha, após o conflito.

A conseqüência desta limitação foi um novo e muito maior encargo de apoio para o Regimento Logístico dos Comandos.

Seguindo as ordens para a 5ª Brigada de mover-se pelo eixo ao sul em direção à capital e em função da necessidade de emprego do "flanco marítimo" e por sua própria limitada capacidade de prestação do apoio logístico, foi decidido o estabelecimento de outra AApLog avançada em Fitzroy, a SW de seu objetivo.

Suprimento foram enviados por mar para o estabelecimento desta área em dois navios logísticos. Estes navios foram observados por tropas argentinas que dominavam as alturas próximas, que informaram o comando argentino. Os navios foram bombardeados pela aviação vinda do continente, com a perda de 43 mortos e 200 feridos, além de preciosos suprimentos e equipamentos.

O fato dos argentinos não terem aproveitado a confusão reinante em Fitzroy para contra-atacarem, permitiu que os britânicos consolidassem aquela posição próxima ao seu objetivo estratégico, enquanto a 3ª Brigada aproximava-se pelo norte. O ataque final seria faseado: a 3ª Brigada atacaria primeiro mais ao norte, seguida da 5ª Brigada ao sul na próxima noite.

O alto consumo de munição e a sua dificuldade de distribuição acabaram forçando uma adiamento do ataque da 5ª Brigada, previsto para a noite de 12/13 Jun, ante a impossibilidade de pré-posicionamento de tiros 105 junto às peças. O ataque foi, finalmente, realizado na noite seguinte. Na manhã de 14, o comando da guarnição argentina aceitou o cessar-fogo.

A logística argentina

Ao iniciar as hostilidades enfrentando uma hipótese de guerra inédita, o Exército Argentino não se achava devidamente adestrado e capacitado para sustentar um conflito da magnitude e características como as que enfrentou contra um inimigo com experiência e poder militar superiores.

O Exército funcionava no sistema de conscrição. Na ocasião, os soldados da classe de 1962 estavam dando baixa, enquanto os da classe de 1963 ainda não tinham completado sua instrução básica. Muitas das unidades enviadas para as Ilhas provinham de áreas de clima mais ameno, no litoral ou no Norte da Argentina, o que resultou em graves problemas de adaptação às inóspitas condições em que iriam lutar.

O bloqueio naval britânico impediu o apoio logístico às Ilhas por via marítima. Já o menor controle do espaço aéreo permitiu que a Força Aérea realizasse missões de reabastecimento, com aviões C-130 e Electra pousando nos aeroportos de Porto Argentino e Goose Green até, praticamente, o final do conflito. No período de 02 a 30 de abril, foram transportados para as Ilhas cerca de 1.500 homens e 500 toneladas de suprimento por via aérea; de 1 de maio a 14 de junho, 304 homens e 70 toneladas. Um total de 514 pessoas e 264 feridos foram evacuados de Porto Argentino, por ar, durante a luta.

Durante os meses de abril e maio, por determinação do Alto Comando, as forças nas Ilhas foram reforçadas com o envio das Brigadas de Infantaria X e III, sem que a estrutura logística existente fosse reforçada substancialmente, aumentando as dificuldades para a prestação do apoio. Do quadro de composição dos meios, é possível verificar-se a exigüidade dos meios de apoio presentes nas Malvinas.

Um problema adicional ao comando da GMM era o abastecimento da população local, que passaria a ser executado pelos militares. Uma das maiores preocupações dos argentinos era a de evitar privações entre os "kelpers", o que limitava o aproveitamento de recursos locais, já normalmente escassos.

Em meados do mês de maio, um relatório do comando da GMM antevia sérias limitações no tocante ao apoio logístico. A tropa desdobrada fora de Porto Argentino não possuía abrigos adequados, expondo os soldados a um frio intenso; em função das chuvas, os abrigos individuais es inundavam, causando sérios problemas de saúde. Os níveis de estoque, inicialmente estabelecidos como equivalentes a 30 dias de suprimento, estavam se deteriorando, ante a incapacidade da ponte aérea de repor os itens consumidos, em especial rações, combustível, uniforme e peças de reposição, que totalizavam necessidades de cerca de 15 a 17 toneladas diárias. Começavam a aparecer casos de desnutrição entre os soldados. Alguns recursos locais foram aproveitados para atender às tropas acantonadas em Porto Argentino, como uma pequena padaria e instalações de banho, que assegurava um banho a cada semana. Tentou-se, sem sucesso, implementar-se um programa de pesca. Uma outra deficiência que afetava significativamente o moral era a ausência de correspondências vindas do continente; como paliativo, foi instalado um programa de ligações telefônicas controladas. Um centro de repouso foi constituído junto às instalações do Hospital Militar.

As dificuldades de movimentação por terra nas Ilhas representou um sério óbice para a distribuição de suprimentos às tropas. O uso de helicópteros para este fim minorava ligeiramente o problema, especialmente depois que os britânicos obtiveram a superioridade aérea local, abatendo diversos helicópteros. Além disto, um mau uso destes, transportando tropas para suas posições, que poderiam ter sido alcançadas a pé, diminuiu o número de horas de vôo disponíveis para outra missões.

Em abril, o Hospital Militar de Comodoro Rivadavia recebera ordens de transladar-se para Porto Argentino. Lá, ocupou as instalações de um hotel, ainda não habitado. O hospital chegou a contar com 45 médicos, além de farmacêuticos, enfermeiros e bioquímicos, com uma capacidade de 70 leitos. As evacuações dos feridos da frente de combate eram complicadas, ante a dificuldade de deslocamento de viaturas através campo e pela pouca disponibilidade de aeronaves para a realização de EvAem. Mais de 80% dos atendimentos se referiam a perdas fora de combate, devido a problemas como pé-de-trincheira, congelamento de dedos, infecções na pele e desnutrição. Dos feridos em combate, 70% foram causados por projetis de baixa velocidade (estilhaços de granadas e bombas). Dentre os atendidos, 75% eram conscritos.

Estas limitações do apoio logístico, nascidas basicamente da falta de planejamento, ocasionaram a falta de itens críticos para as forças em combate, especialmente rações, com o óbvio efeito negativo sobre o moral da tropa.

Uma semana antes da rendição, a situação logística argentina tornara-se crítica. Os estoques estavam no fim. Víveres, uniformes, peças de reposição, combustível e munições (em especial 155 mm) constituíam os principais problemas. O gado local (especialmente ovelhas) começou a ser empregado como fonte de alimentação para a tropa.

O maior fracasso logístico argentino, no entanto, deveu-se à sua dependência de fontes externas para a obtenção de importantes peças de reposição, necessárias à manutenção de equipamentos e sistemas em condições operacionais. Fontes britânicas afiançam, por exemplo, que os mísseis antiaéreos Roland da Argentina foram se tornando inoperantes ao longo do conflito por falta de peças de reposição simples, impedidas de serem obtidas pelo embargo econômico imposto aos argentinos.

Há notícias, não confirmadas, de que os argentinos teriam adquirido secretamente algum material de emprego militar, em especial mísseis antiaéreos na Líbia. Este fato não é confirmado, embora haja informações de cinco vôos extraordinários de aeronaves das Aerolineas Argentinas para Trípoli no mês de maio de 1982.

Conclusões

Após a capitulação argentina, uma comissão da alto nível das Forças Armadas argentinas realizou uma avaliação das causas da derrota no conflito. O resultado deste trabalho, conhecido como "Relatório Rattenbach", representou um estudo profundo e minucioso. São transcritas, abaixo, algumas de suas conclusões.

"(...) a concepção estratégica inicial, baseada no emprego decisivo do poder naval, transformou-se na resistência possível e com limitados apoios do elemento terrestre.

(...) O poder de combate utilizado utilizado pelo inimigo em sua reocupação das ilhas foi significativamente maior no que se refere a :

1) Capacidade profissional
2) Capacidade técnica
3) Experiência de combate
4) Apoios de todos os tipos

Um aspecto sumamente importante relacionado com o exercício de comando (...) é o que se refere à carência absoluta de adequados apoios que permitissem aos elementos do Exército desatacados um melhor desenvolvimento de suas capacidades e, por conseguinte, a obtenção de melhores resultados. Assim, por exemplo, as Forças Terrestres tiveram de lutar contra o inimigo e as condições de meio ambiente, COM UMA LOGÍSTICA ABSOLUTAMENTE DEFICIENTE, COM SÉRIAS LIMITAÇÕES DE APOIO DE FOGO, COM ABSOLUTAS LIMITAÇÕES PARA O TRANSPORTE DE EFETIVOS DEVIDO À ESCASSEZ DE HELICÓPTEROS DE TRANSPORTE E COM INSUFICIENTE APOIO AÉREO DIRETO E APOIO NAVAL." [o grifo é do relatório]

Obviamente, a derrota argentina não se explica somente pela deficiência do apoio logístico. Outros fatores, de ordem tática, podem ser alinhados entre as causas do resultado:
- Emprego de tropas inadequadas e mal preparadas. Embora possuísse tropas profissionais e melhor ambientadas às condições inóspitas do extremo sul, o Alto Comando argentino decidiu mantê-las em reserva no continente, fazendo face a outras possíveis ameaças, como o Chile ou um ataque britânico. As forças empregadas não eram adestradas, sendo constituídas, em sua maioria, por conscritos prestando serviço militar inicial. Além disso, provinham de áreas de clima sub-tropical, não tendo tempo para ambientar-se.
- Falta de coordenação entre as Forças Armadas, em especial Exército e Força Aérea, dificultando ao apoio aéreo aproximado à operações.
- Deficiência de informações estratégicas e de combate.
- Postura defensiva adotada, com pouca flexibilidade e agressividade, entregando toda a iniciativa ao oponente. Em pelo menos duas ocasiões, os argentinos deixaram de aproveitar oportunidades de impedir ou, pelo menos dificultar, o avanço britânico: logo após o desembarque, antes de consolidarem a cabeça-de-praia, e após o afundamento dos navios de transporte em Fitzroy.
- Desdobramento prematuro das forças, sem condições de sobrevivência adequada. As tropas ficaram por muito tempo em posições desabrigadas, sem contarem com as condições de abrigo adequadas. Este tempo foi pouco aproveitado na preparação do dispositivo defensivo e somente serviu para depreciar a capacidade combativa das tropas. As tropas desdobradas na Ilha Gran Malvina ficaram isoladas durante todo o conflito, não tendo qualquer participação significativa no seudesenrolar.

Do ponto de vista britânico, o apoio logístico foi um sucesso. Apesar da grande distância que separava as forças de suas bases, não foram sentidos grandes faltas de equipamentos essenciais, exceto aqueles perdidos no próprio combate, como a carga do Atlantic Conveyor. Nos poucos casos em que o material não estava disponível, a improvisação e engenho conseguiram substitutos razoáveis.

A Força Tarefa foi aprestou-se em um prazo bastante curto, demonstrando o elevado grau de prontidão e adestramento.

O conflito das Malvinas traz uma série de ensinamentos do ponto de vista logístico. Entre elas, destacam-se:
- a importância da mobilização dos recursos civis para a logística militar. A Grã-Bretanha empregou diversos navios civis mobilizados durante o conflito. Sem eles, não teria capacidade de transporte e apoio logístico à Força Tarefa. Aeronaves civis transportaram grandes quantidades de suprimento para a Ilha de Ascensão, que se constituía em uma Base Logística avançada. Diversos técnicos civis participaram do aprestamento da Força. Esta capacidade de rápida mobilização dos recursos civis é cada vez mais importante para a logística, ante a incapacidade econômica dos países em manter meios militares capazes de atender a todas as suas necessidades.
- a importância de uma estimativa logística bem conduzida. Um dos grandes problemas britânicos foi a alta taxa de consumo de munição, bastante acima do previsto. Embora não tivesse impedido o sucesso da operação, os estoques de munição foram aquém do ideal. Tal fato demonstra a necessidade de informações gerenciais corretas e precisas no que se refere ao planejamento do apoio logístico.
- o valor do helicóptero no transporte de suprimentos. Este conflito demonstrou, mais uma vez, a importância do helicóptero de carga na distribuição de suprimentos e na movimentação de tropas, especialmente em terrenos pouco favoráveis ao trânsito de viaturas.
- a vulnerabilidade da logística nacional ante equipamentos importados. Contratos existentes entre a Argentina e países fornecedores de materiais de emprego militar, como no caso da França, tiveram suas entregas atrasadas deliberadamente, diante do embargo econômico da Comunidade Européia. Há fontes que afirmam que segredos militares sobre o desempenho de equipamentos, como os mísseis Exocet e as aeronaves "Super Etendar" forma passados aos britânicos durante o conflito, permitindo-lhes que melhorassem suas medidas defensivas.
- necessidade da integração entre os planejadores táticos e logísticos. Esta talvez tenha sido uma das maiores lições do conflito, para ambos os lados. Das deficiências logísticas argentinas, muito já foi dito. Basicamente, nasceram da falta do elemento logístico junto ao tático. Providências importantíssimas, como o pré-posicionamento de suprimentos, melhoria das condições das pistas de pouso, construção de abrigos para as tropas, fornecimento de uniformes mais adaptados para as condições climáticas, etc., poderiam ter possibilitado melhores resultados para os combates.

Do lado britânico, esta necessidade de integração também ficou patente. As dificuldades surgidas após o desembarque para o prosseguimento rumo a Porto Argentino, a falta de proteção antiaérea da AApLog na Baía Ajax e, posteriormente, em Fitzroy, a chegada da 5ª Brigada de Infantaria sem os adequados meios para a prestação do apoio logístico foram exemplos típicos desta dificuldade de trabalho conjunto.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

BNDES: Em favor do desenvolvimento econômico

Nunca a história do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social havia registrado uma guinada tão radical em prol da infra-estrutura. Entre fevereiro de 2007 e janeiro de 2008, a instituição desembolsou R$ 12,1 bilhões apenas para o setor de transportes terrestres, o que elevou a área ao patamar de liderança de todos os desembolsos feitos pela instituição no período. O valor é 71,4% maior que o registrado nos doze meses anteriores.

A expectativa da instituição pra este exercício é que os desembolsos cheguem a R$ 80 bilhões, 25% a mais do que o registrado em 2007, tendo os projetos de infra-estrutura como um dos destaques do banco. Nesse processo, o BNDES tem a Região Nordeste como um dos eixos fortes de sua atuação. Para este ano, o banco possui um orçamento de R$ 4,4 bilhões para a área de logística e a estimativa de que 40% desses recursos venham para a Região Nordeste.

O BNDES tem a Região Nordeste como um dos eixos fortes de sua atuação. Para este ano, o banco possui um orçamento de R$ 4,4 bilhões para a área de logística e a estimativa é de que 40% desses recursos venham para a Região Nordeste.

“O BNDES vem apoiando projetos que reforcem a malha logística da Região. O banco entende que a oferta de infra-estrutura logística é importante para o crescimento econômico, estimulando investimentos em diversos setores e indústrias, além da conseqüente redução dos custos de transportes, o que torna os produtos mais competitivos, tanto em nível nacional como internacional”, diz o gerente interino do Departamento de Transportes e Logística do BNDES, Leandro Villar. Para alcançar esse objetivo, a instituição vem ofertando linhas de crédito específicas para o Nordeste, com taxas de juros e níveis de participação diferenciados em relação a outros produtos do banco.

Um outro ponto da importância do crescimento regional está na criação, por parte da instituição, do Comitê de Desenvolvimento Regional, que tem como objetivo minimizar os efeitos das desigualdades regionais. “Implantamos um projeto piloto em Suape, que envolve toda a área do entorno do complexo. Estão incluídos aí os municípios do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca, Moreno e Escada. Nessas regiões o BNDES está fazendo uma série de ações em cima dos arranjos produtivos locais (APLs) para que quando da ocasião da chamada de projetos por parte do banco haja uma diferenciação. As linhas, novas e já existentes, envolvem não apenas a questão da infra-estrutura ou os grandes projetos. Queremos envolver as micro e pequenas empresas e também projetos de desenvolvimento social”, afirma Paulo Guimarães, chefe do departamento Nordeste.

Uma outra linha de ação importante está sendo aplicada junto aos estados de Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí, que no ano passado receberam poucos recursos por parte do banco. Um bom exemplo é São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, onde está sendo implantado um aeroporto internacional.

Na área de infra-estrutura logística regional, o BNDES vem se destacando pelo apoio a grandes projetos que envolvem não apenas o Nordeste, mas também a Região Norte. Estão incluídos: os financiamentos da Ferrovia Transnordestina (R$ 900 milhões) Ferrovia Norte-Sul (R$ 1,4 Bilhão), além de investimentos da ordem de R$ 196 milhões em diversas rodovias do Pará.

Mas nem tudo são flores. Apesar dos grandes valores envolvidos e do crescimento regional nos últimos anos ficar acima da média nacional, o Nordeste é uma das áreas menos aquinhoadas pelos repasses da instituição. Os desembolsos, embora crescentes, são inferiores a 10% do total disponibilizado. Em 2004, segundo o próprio BNDES, o Nordeste recebeu R$ 2,7 bilhões. No ano seguinte foram repassados R$ 3,8 bilhões para os mais diversos projetos em toda a Região. Nos exercícios de 2006 e 2007, os valores chegaram a R$ 4,8 bilhões e R$ 5,3 bilhões, respectivamente. Mas o banco está ampliando esses valores ano a ano. Esperamos que a Região alcance o índice de 13% de todo o valor desembolsado pelo banco até o ano de 2010”, diz Guimarães.

“Talvez a limitação orçamentária dos estados e municípios, em relação à realização de investimentos em infra-estrutura, explique alguma deficiência. No entanto, a participação do BNDES em projetos estruturantes e de natureza de integração regional contribui para a redução dessa deficiência, como é o caso da Transnordestina”. Pelo visto, se depender das intenções do BNDES, o Nordeste não venha se tornar independente, como dizia a música de Bráulio Tavares, mas com certeza será menos dependente de outras regiões, o que já é um passo gigantesco em comparação à situação atual.
Fonte: Cais do Porto.com

A cabotagem ainda está engatinhando

Navegação entre portos brasileiros deve crescer 6% este ano, mas ainda é pequena a utilização do modal quando comparada ao transporte rodoviário. Um dos inibidores da atividade é a reserva de mercado.

Como na música de Caetano Veloso, navegar é preciso. A frase, extraída de um poema Fernando Pessoa, nunca foi tão verdadeira como no caso da navegação de cabotagem. Hoje, segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), existem 17 navios operando com cabotagem em águas brasileiras. No total, incluindo navios graneleiros e químicos, menos de 150 embarcações realizam o serviço de ligação entre os portos nacionais, enquanto o número de caminhões nas estradas brasileiras chega a 1,4 milhão.

A expectativa do setor é que a baixa utilização do modal está prestes a sofrer uma guinada radical. Várias empresas, como a Transpetro, subsidiária da Petrobras, e a Log-In, ligada à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), já anunciaram a intenção de adquirir embarcações para operações de cabotagem. A razões do otimismo dos armadores e da indústria está no crescimento médio anual da ordem de 6% registrado pela atividade.

De acordo com o presidente do Grupo de Estudos Logísticos de Pernambuco (Gelpe), Oswaldo Moz, as cargas transportadas por cabotagem crescem ano a ano. No período entre os anos de 1999 e 2005, a movimentação saltou de 24 mil para 360 mil contêineres. Nos doze meses seguintes a movimentação permaneceu a mesma. Para este exercício, porém a perspectiva de crescimento do setor é de 6%. “A carência de equipamentos, em especial navios para realizar esse tipo de operação, é um fator limitante ao crescimento da cabotagem no Brasil. Também existem gargalos logísticos em vários portos do País, em especial na região Sul. Ali, a maioria dos portos tem equipamentos obsoletos e não existe espaço para ampliação de retroáreas”, observa Moz. Segundo ele, seriam necessários investimentos imediatos de R$ 1 bilhão para operar em condições satisfatórias.

No caso dos portos do Nordeste, existe ainda um outro fator limitante. O descompasso entre a chegada de contêineres cheios, vindos do Sul e Sudeste do País, e a saída de contêineres da região Nordeste, em grande parte vazios, também acaba refletido na oferta dos serviços de navegação. Um dos pontos centrais é o número de escalas reduzidas. O diretor da navegação da Log-In, empresa de navegação dedicada à cabotagem, Rômulo Otoni, confirma a posição do diretor do Gelpe. Somente em Pernambuco, em média, de cada 100 contêineres operados em Suape, 20 são vazios.

De acordo com Sérgio Kano, presidente do Tecon Suape - segundo terminal do País em operações de cabotagem -, a situação deverá mudar em breve. “Hoje grandes empresas estão se instalando em Pernambuco. A M&G montou aqui a maior fábrica de resinas PET do mundo. Isso aumenta o volume de cargas, tanto de longo curso como de cabotagem. À medida que os volumes da fábrica crescerem, a oferta de serviços também crescerá rapidamente”, comenta. Atualmente, cerca de 20% das linhas que passam pelo Tecon Suape são de navegação de cabotagem. São oferecidos 22 serviços mensais, com mais de cinco escalas por mês.

Um outro ponto destacado por Kano é o fato do empresariado do Nordeste estar descobrindo rapidamente as vantagens da cabotagem. Segundo ele, os custos em comparação com o transporte rodoviário tendem a ser inferiores, entre 10% e 30%, dependendo da distância entre o local de origem das cargas e o porto de embarque, bem como entre a distância percorrida pelo navio e o porto de destino, associado, ainda, à distância desse último e o ponto de entrega final da mercadoria. “Um caminhão cegonha carrega dez veículos. Já um navio pode trazer de uma montadora paulista, por exemplo, até dois mil carros. São 200 carretas a menos. A economia é imensa”, exemplifica.

Modal rodoviário responde por 61,8% do transporte de cargas no Brasil

Embora reconheça que existe uma tendência crescente da oferta de navios e serviços associados à cabotagem, Kano defende a idéia de que o País deveria abrir o segmento à operação de empresas estrangeiras por um período de tempo pré-determinado. “Em todo o mundo a cabotagem é protegida. Mas o Brasil quer proteger algo que não existia, foi destruída ao longo dos anos, e somente agora começa a ressurgir. Não é uma idéia de todo ruim adotar esse sistema até que as empresas brasileiras tenham navios suficientes para atender a demanda”, avalia.

O vice-presidente executivo do Syndarma, Roberto Galli, descarta esta possibilidade e diz que o Brasil possui embarcações em número suficiente para atender ao mercado. “São 17 navios de carga geral, incluindo contêineres, fora os demais segmentos que elevam esse número para mais de 100 embarcações. No País existem quatro empresas atuando com cabotagem. Além disso, há possibilidade da transferência de navios de longo curso para a cabotagem. Não existe o risco de um apagão na cabotagem. O que o País precisa é de investimentos em terra”, afirma. De acordo com Galli, como os portos foram relegados a segundo plano por muito tempo, o momento agora é de recuperar o tempo perdido. “O problema é mais de logística integrada do que de navios”, garante.

Como para corroborar as opiniões de Galli, a frota de cabotagem deve crescer significativamente nos próximos anos. Em setembro, o vice-presidente da República, José Alencar, anunciou que o Governo Federal tem intenção de elevar de 20% para 50% a participação da frota nacional no transporte aquaviário de cargas. Hoje, apenas 12% das cargas são transportadas por navios, muito embora o Brasil possua uma costa com cerca de oito mil quilômetros de extensão. Ainda em setembro, a Transpetro anunciou a encomenda de quatro embarcações destinadas a esse tipo de serviço.

A Log-In também anunciou investimentos no modal de cabotagem, mais especificamente no segmento de cargas contêineirizadas. Com cinco navios em operação, a empresa pretende investir US$ 350 milhões na construção de cinco embarcações, elevando a capacidade atual de transporte de 2,7 mil TEUS (unidade padrão para contêiner de 20 pés) para 4,5 mil TEUS. “Muito se fala sobre o risco de um apagão de cabotagem ou mesmo um apagão logístico no setor. Esse risco não existe. Assim como existem investimentos altos por parte de empresas armadoras, muitos terminais portuários também estão fazendo o mesmo. “O Tecon Rio Grande (RS) é um dos que estão ampliando os berços de atracação, assim como Navegantes (SC). Em Pernambuco, Suape ampliou um outro berço. Existem investimentos significativos sendo feitos, o que descarta a possibilidade de um apagão”, afirma Otoni.

Veja a participação da navegação no transporte de cargas no Brasil.

Fonte: Cais do Porto.com

Nos trilhos do desenvolvimento

Ferrovia Transnordestina, que vai consumir investimentos de R$ 4,5 bilhões, deverá ser concluída em 2010 e permitirá a expansão de setores econômicos no Nordeste.
Imperador de um país com dimensões continentais, D. Pedro II tinha o sonho de interligar o Brasil através de ferrovias, a exemplo do que tinha visto em países da Europa. Não viveu o bastante para ver seu projeto concretizado. Somente agora, quase dois séculos depois, a ferrovia começa a sair do papel. Não será mais como um trem de passageiros, conforme idealizado inicialmente, mas como um modal logístico interligado que, ao entrar em operação, poderá mudar as feições econômicas do Nordeste.

Com cerca de 1,8 mil quilômetros de trilhos e investimentos da ordem de R$ 4,5 bilhões, a ferrovia Transnordestina, operada pela Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) deverá ser concluída até o ano de 2010, segundo o cronograma oficial. Quando estiver finalizada e em plena operação, o volume de cargas estimado varia de 8 milhões (no primeiro ano de atividades) a 45 milhões de toneladas anuais. Hoje, o volume transportado sobre trilhos beira as 644 mil toneladas/ano.

A ativação da malha ferroviária viabilizará grandes projetos estruturadores através da interligação modal. Com isso, os custos logísticos tendem a cair significativamente e a produção de determinados itens pode crescer e ganhar o perfil de cargas de exportação. Um bom exemplo desse potencial está na produção de soja, na região Oeste da Bahia. Atualmente, os grãos são levados por caminhões para os portos de São Luís (MA) e Ilhéu (BA), e em alguns casos até mesmo para Santos (SP). A estimativa é que com a queda nos custos logísticos o volume produzido possa ser ampliado em até 20%.

De acordo com o Sindicato da Indústria do Gesso e Gipsita de Pernambuco (Sindusgesso/PE), a produção da Chapada do Araripe, onde se concentra mais de 90% da fabricação nacional desses itens, poderá ser elevada para 14 milhões de toneladas anuais, graças à ferrovia. O produto também poderá ser exportado mais facilmente, em função da redução dos custos logísticos de transporte até os portos da Região.
“Fala-se muito da malha principal da ferrovia, mas temos a concessão total de cerca de 4,5 mil quilômetro, sendo 3 mil deles operacionais. No momento estamos reativando alguns ramais de forma a colocar a ferrovia em plena operação o mais rápido possível”, diz o gerente de engenharia e planejamento da Transnordestina, Alan Jones Tavares.

Os esforços para colocar a ferrovia em operação não dizem respeito apenas aos 1,8 mil quilômetros da Transnordestina. No momento, estão sendo tocadas três frentes de serviço ligando o Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco, ao município de Porto Real do Colégio, em Alagoas. A proposta da obra orçada em R$ 112 milhões - é restabelecer a ligação ferroviária com o Sudeste, interrompida desde 2000 por conta das fortes chuvas que arrastaram trilhos e derrubaram pontes na região.

O projeto é considerado tão importante para dinamizar a economia interiorana que, no caso do Governo de Pernambuco, houve até a inclusão de um trecho ligando Petrolina a Salgueiro que não estava previsto no traçado inicial da Transnordestina. O ramal, com aproximadamente 250 quilômetros de extensão, está avaliado em cerca de US$ 300 milhões. O trecho é considerado importante pelo fato de representar uma opção logística a mais para a fruticultura irrigada do Vale do São Francisco.

Como também existe a perspectiva de, a longo prazo, ser construído o Canal do Sertão, projeto de irrigação para 150 mil hectares de terra e que poderá ser destinado à produção de etanol, bem como a possibilidade de revitalização do rio São Francisco, o que permitiria o pleno funcionamento da hidrovia e o conseqüente escoamento de grande parte da produção de grãos do Oeste baiano, o projeto é considerado estratégico para Pernambuco. “O problema é que ainda não existe escala que justifique um investimento desse tamanho. Projetos dessa natureza são integrados e levam muito tempo para maturar. Da forma como está desenhado, deverá ficar mesmo no papel”, diz um executivo ligado ao projeto. Uma outra dificuldade está no fato do ramal não ter sido incluído no traçado original da Transnordestina, o que impede o acesso da CFN ao financiamento.

Apesar da vontade política (a implantação da ferrovia virou questão estratégica para o Governo Federal) - e da necessidade econômica do projeto, nem tudo são flores. A implantação da obra tem esbarrado continuadamente em problemas ambientais, atrasos na liberação do financiamento, desapropriações, entre outros. Em função das constantes críticas por conta de atrasos no cronograma, o Governo Federal chegou até a acenar para a possibilidade de tomar a concessão da CFN. Algumas soluções parecem ter surgido a partir de uma reunião entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os governadores dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí, ocorrida no início de dezembro (2007), em Brasília.

O “destravamento” passa pela criação de grupos de trabalhos que envolvem órgãos federais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit),além de órgãos estaduais de controle do meio ambiente, todos sob a coordenação e supervisão direta do Ministério da Casa Civil. Também serão criados grupos de trabalho para atuação estadual. Neste ponto, Pernambuco saiu na frente com a criação de uma equipe para agilizar os serviços de desapropriação de áreas. O modelo pernambucano será adotado pelos demais estados que serão cortados pela ferrovia. O pacto entre os estados foi assinado em meados de dezembro.

“Na realidade, o que os estados ganharam foi um poder maior para atuar diretamente em algumas áreas ligadas ao projeto. Com isso ganha-se agilidade para que as duas pernas da ferrovia, tanto a que segue para Pecém, no Ceará, como a que segue para Suape, em Pernambuco, sejam implantadas de forma simultânea até o prazo final, que é o ano de 2010”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho.

Já o diretor da CFN observa que os atrasos não são de responsabilidade da empresa. “Estamos dentro do cronograma. Em fevereiro serão entregues os projetos executivos dos trechos Suape-Salgueiro, em Pernambuco, e Trindade-Eliseu Martins, ligação entre Pernambuco e Piauí. Em abril deverá ser entregue o projeto executivo do trecho Pecém-Missão Velha, no Ceará. Se acontecerem atrasos não foram da CFN”, diz Tavares.

O trecho Salgueiro-Trindade atrasou um ano em função de problemas ligados ao meio ambiente e a desapropriações que estavam a cargo do Governo de Pernambuco e do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT). As obras foram retomadas e a expectativa é que esses ramais estejam operativos até o final de 2008. Com a entrada em funcionamento dessas novas áreas, será possível escoar o gesso e a gipsita do Araripe para o Porto de Suape através da utilização de um ramal férreo que corta o vizinho Estado da Paraíba.

“Os estados ganharam um poder maior para atuar diretamente em algumas áreas ligadas ao projeto. Com isso ganha-se agilidade para que as duas pernas da ferrovia (Pecém e Suape) sejam implantadas de forma simultânea até o prazo final, 2010” Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco”

O presidente da CFN, Tufi Daher, observa que os cronogramas de liberação dos recursos ligados aos financiamentos federais também sofreram atrasos. “Até o momento, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou cerca de R$ 80 milhões, enquanto os acionistas aportaram outros R$ 20 milhões em recursos próprios. Os financiamentos do BNDES deveriam ter alcançado R$ 100 milhões e, através do Finor, outros R$ 142 milhões já eram para estar liberados. Estes R$ 142 milhões deveriam ter entrado no caixa há pelo menos seis meses”, relata Daher.

O atraso na liberação dos financiamentos, diferente das questões acordadas pelos estados, se deve à burocracia dos próprios órgãos federais. Muito embora a CFN tenha conseguido uma Certidão Negativa de Débitos (CND) junto aos órgãos federais, a empresa continua inscrita no Cadastro de Inadimplentes (Cadin), o que a impede de conseguir financiamento junto a determinadas instituições federais.
Apesar disso, as obras estão sendo tocadas. Em dezembro, a companhia anunciou o início das obras no trecho Salgueiro-Trindade, parte do ramal de 100 quilômetros que liga a cidade pernambucana a Missão Velha, no Ceará. A previsão é que o trecho entre em operação no final de 2008.

Entrevista - Ministro Pedro Brito

Criada no ano passado, a Secretaria Especial de Portos (SEP), que possui status de ministério, tem como missão resolver os entraves e gargalos do setor portuário brasileiro. Marcada por um longo período com poucos investimentos, a atividade portuária acabou por ficar estrangulada ante o crescimento da economia nacional.Agora, as coisas parecem tomar outro rumo. Com mais recursos e uma série de projetos e obras em andamento, a meta é retomar as rédeas da atividade portuária brasileira. Projetos como dragagem, elaboração de um plano diretor para o setor, eliminação de gargalos logísticos e de infra-estrutura, intermodalidade, aumento da competitividade, implementação de hub ports (portos concentradores de cargas para posterior redistribuição) e a possibilidade de que portos nordestinos conquistem este status, fazem parte dos projetos do ministro da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, como você vai conferir nesta entrevista exclusiva à Cais do Porto.
Cais do Porto - A criação da Secretaria Especial de Portos é bastante recente, estando em atividade há cerca de um ano apenas. Diante de toda a gama de necessidades do setor, a estrutura pode ser considerada adequada?
Pedro Brito - Sim. A Secretaria tem uma estrutura pequena, mas extremamente técnica. Não existe esta coisa de indicação política ou partidária. É um organismo extremante enxuto, formado por técnicos oriundos da própria área portuária, o que quer dizer que entendem das necessidades do setor. Sim, a estrutura da Secretaria pode ser considerada adequada.
Cais do Porto - A Secretaria foi criada com objetivo de dinamizar e dar um perfil mais competitivo aos portos nacionais. Em sua opinião, quais as principais ações e os resultados obtidos pela Secretaria desde sua criação, em 2007?
Pedro Brito - Eu destaco como uma ação de extrema importância a profissionalização da gestão, com um quadro formado por técnicos e executivos, em todas as Companhias Docas do Brasil. São sete Companhias Docas que têm responsabilidade sobre 34 portos públicos nacionais. Um outro ponto de destaque foi o fato de providenciarmos um programa nacional de dragagem que permitiu a entrada de empresas internacionais de forma competitiva. Somente nesta área, os recursos, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), somam R$ 1,5 bilhão.
Cais do Porto - A dragagem sempre foi um problema junto ao setor portuário brasileiro…
Pedro Brito - Nesta direção estaremos lançando os editais para a realização de dragagens a partir de maio. O cronograma vai até o mês de novembro. Somente aí serão beneficiados nada menos que quinze portos, incluindo os complexos de Suape e Recife, em Pernambuco, com recursos da ordem de R$ 110 milhões e R$ 25 milhões, respectivamente. Também temos recursos previstos para o porto de Mucuripe, em Fortaleza (CE), que somam outros R$ 45 milhões.
Cais do Porto - Em Pernambuco existe um fato novo na questão da dragagem. Estudos recentes mostram que os R$ 110 milhões estimados inicialmente para a realização dos serviços de dragagem em Suape serão insuficientes. Seriam necessários pelo menos R$ 350 milhões para a realização dos serviços em função da grande quantidade de rochas encontradas no leito do terminal. Existe alguma possibilidade de se conseguir esse dinheiro?
Pedro Brito - Eu desconheço esta informação sobre a existência de rochas em Suape. Suape não nos trouxe este projeto. O que nós temos previsto é o valor do projeto que nos foi apresentado em um primeiro momento. Não temos mais que este valor de R$ 110 milhões para a realização da dragagem em Suape. Os maiores volumes de recursos para este tipo de serviço estão nos portos de Santos (SP), com R$ 207 milhões, Rio Grande (RS), com R$ 160 milhões, e Rio de Janeiro, com R$ 150 milhões.
Cais do Porto - O que se observa hoje em dia é uma espécie de estrangulamento nos principais portos do País. Não é o caso de se acelerar a distribuição de cargas para portos com uma maior folga, como os do Nordeste, por exemplo, para posterior redistribuição, via navios de cabotagem? Ou seja, consolidar aquela antiga história dos hub ports (portos concentradores)?
Pedro Brito - Esta questão dos hub ports já está em andamento. O Porto de Santos foi escolhido pelo mercado para ser o hub port da América Latina. É o mercado quem escolhe qual terminal portuário será ou não um hub port. Portos sem mercado, sem acesso e sem calado, serão descartados.
Cais do Porto - Mas existem portos com tendência para se tornarem hub ports, tanto é que existem estudos sendo feitos nesta direção…
Pedro Brito - Sim. Existem estudos sendo feitos para termos idéia das reais vocações de cada terminal. No extremo sul, por exemplo, existe o Porto de Rio Grande (RS). No Nordeste existem os portos de Suape (PE), Pecém (CE) e Itaqui (MA) que possuem potencial para este fim. Mas quem decide é o mercado e não quem está em Brasília. Para se tornarem hubs é necessário que os terminais tenham acessos rodoviários e aquaviários, calado para receber navios cada vez maiores e, também, mercado. No Nordeste, Suape tem recebido muitos recursos para a construção de acessos e se coloca como uma alternativa, assim como Pecém e Itaqui. Esses portos terão seus mercados ampliados brevemente em função da expansão do Canal do Panamá. É uma realidade para quatro ou cinco anos, ou seja, é para amanhã.
Cais do Porto - E quanto aos demais portos, aqueles que não conseguirem se qualificar como hub ports?
Pedro Brito - No Nordeste, além destes três portos, temos o pólo da Bahia, que também é de grande importância. Também pretendemos desenvolver o Pará. Se apenas um de todos estes terminais puder ser um hub port, todos os demais terão condições de participar ativamente da navegação de cabotagem. Por todo o País existem terminais especializados que não podem ser desprezados. Um bom exemplo de um complexo com alto grau de especialização é o terminal salineiro de Areia Branca, no Rio Grande do Norte. O plano diretor portuário que está sendo executado é que vai dar uma visão completa de todo o parque portuário nacional. Este estudo é que vai destacar a importância de cada porto em todo o País. O plano diretor deverá estar concluído até o final deste ano.
Cais do Porto - Quais os maiores gargalos para a competitividade dos portos brasileiros?
Pedro Brito - Não existem gargalos. Existe um gargalo. Na medida em que você soluciona um gargalo aparece outro. No nosso caso, o maior problema é o acesso, seja rodoviário, ferroviário ou mesmo aquaviário em função do pequeno calado de muitos de nossos terminais. A falta de intermodalidade é visível. Em relação ao acesso aquaviário também é preciso uma intermodalidade fluvial, a exemplo do que é praticado em Rotterdam, na Holanda. Rotterdam recebe cargas de todo o mundo. Em seguida essas cargas são transferidas para toda a Europa, seja por meio de navios menores, barcaças, trens ou caminhões. Superar esse problema é a nossa maior dificuldade atualmente.
Cais do Porto - Como está a questão dos recursos para a Secretaria Especial de Portos, uma vez que o orçamento sequer foi votado?
Pedro Brito - É verdade. Ainda não temos o orçamento para 2008, uma vez que o congresso ainda não votou o Orçamento Geral da União (OGU) para este exercício. A nossa proposta para este ano chega a R$ 780 milhões. Deste total, R$ 600 milhões são originários do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e outros R$ 180 milhões do Plano Prioritário de Investimentos (PPI). Além disso, estamos executando bem os recursos que temos. No ano passado empenhamos R$ 650 milhões, mais que o dobro em 2006. Isso com apenas seis meses de funcionamento da Secretaria.
Cais do Porto - Destes R$ 780 milhões previstos pela dotação orçamentária da Secretaria em 2008, quanto deverá ser destinado aos portos do Nordeste?
Pedro Brito - Deste total, o Nordeste deverá receber cerca de R$ 300 milhões. Mas tudo vai depender de projetos e do andamento das obras em execução. Não vamos ficar com recursos parados, esperando o tempo passar. Serão recursos competitivos. Neste caso, todos terão que fazer sua parte.
Cais do Porto- Quais são as perspectivas para o setor portuário ao longo de 2008?
Pedro Brito - Em 2007 batemos o recorde em nossa corrente de comércio, com uma movimentação da ordem de US$ 281 bilhões, sendo US$ 160 bilhões originários de nossas exportações. O crescimento sobre o ano anterior chegou a 22%. Nos últimos cinco anos, o Brasil vem crescendo, em média, cerca de 21%, anualmente. Para este exercício, mesmo com a possibilidade de uma crise internacional, estamos projetando um crescimento forte. Pode ser que não chegue a 22%, como no ano passado, mas queremos uma corrente de comércio próxima a US$ 320 bilhões, sendo que 90% dessa movimentação deverão passar pelos portos brasileiros.
Fonte: Cais do Porto.com

Governo quer dobrar movimento do Porto de Santos até 2012

A informação foi dada pelo ministro da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito (foto).

O Estado de São Paulo - 24/5/2007

São Paulo - O ministro da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, afirmou nesta quinta-feira, 24, que uma das metas da nova pasta é dobrar a movimentação atual do Porto de Santos no prazo de cinco anos. Atualmente, a unidade movimenta, por ano, em torno de 76 milhões de toneladas, respondendo por 50% do volume de comércio exterior do Brasil e por 30% do fluxo financeiro.

Em entrevista à Agência Estado, Brito disse ter visitado Santos durante todo a quarta-feira, para identificar quais os principais gargalos do porto. Entre as deficiências que serão atacadas estão os acessos terrestres (rodoviário e ferroviário). "Precisamos terminar as obras da perimetral de Santos, que dará vazão aos caminhões que chegam e saem do porto", destacou.

O ministro comentou ainda que vai adotar o modelo de concessão, com licitação internacional, para realização de dragagens de manutenção e aprofundamento dos acessos marítimos do porto. A previsão é de que a empresa vencedora assine um contrato de longo prazo (cinco anos, com possibilidade de prorrogação por mais cinco). "Já estamos editando uma medida provisória para que a concorrência possa ser feita", informou.

Com as novas medidas, a expectativa é de que a movimentação de carga no Porto de Santos ganhe maior eficiência, aliada a uma redução nos preços.

Extensão

Segundo Brito, as providências tomadas inicialmente para melhorar a produtividade em Santos serão posteriormente estendidas para outros portos do Brasil. A prioridade, depois de São Paulo, inclui os portos do Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES) e Salvador (BA). Também estão na lista os portos de Fortaleza e Recife (PE).

O ministro disse ainda que o foco inicial do governo é profissionalizar a gestão dos portos, com a indicação de profissionais técnicos para ocupar a presidência das companhias docas.

Segundo Brito, outra prioridade é criar apenas um canal de comunicação para tratar de problemas portuários que envolvam desde a Receita Federal, Anvisa e Ministério da Agricultura, entre outros, a fim de reduzir a burocracia e os custos atuais - além de dar maior agilidade aos processos de importação e exportação. "Temos uma reunião marcada para a próxima quinta-feira, na qual deve sair a primeira agenda com medidas de impacto imediato", disse.

Conforme o ministro, os novos procedimentos serão aplicados inicialmente no Porto de Santos e posteriormente em todos os portos do País. Atualmente, existem 40 portos marítimos no Brasil, dos quais 18 são administrados pelo governo federal e o restante por Estados e municípios.

O ministro disse ainda que as denúncias de corrupção em obras públicas, inclusive do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não devem interferir no cronograma de melhorias previsto para os portos. "Não faltam recursos para que possamos cumprir as metas da área portuária."

Dívida

Sobre a dívida de cerca de R$ 800 milhões da unidade de Santos, Brito afirmou que o governo está estudando uma solução para o passivo, que inibe a realização de novos investimentos. Segundo ele, estão sendo estudadas várias opções, inclusive a criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), com o objetivo de separar a dívida antiga das receitas futuras. "Estamos analisando várias alternativas e devemos definir qual vamos adotar nos próximos dois meses", disse.

O ministro ressaltou ainda, em coletiva de imprensa, que a Codesp tem um crédito a receber superior ao passivo atual, referente a serviços prestados no passado e cuja cobrança foi contestada na Justiça. De acordo com Brito, o governo vai adotar medidas para recebê-lo. Ele citou, como exemplo, pendências na Justiça no valor de R$ 400 milhões da Usiminas e de R$ 200 milhões do grupo Libra. "Não admito essa situação."

Brito disse ainda que, com a nova política adotada para o setor, que prevê a profissionalização da gestão, perde peso a discussão da estadualização do Porto de Santos, como defende o governador de São Paulo, José Serra. "Uma vez que a administração esteja profissionalizada e focada no reaparelhamento do porto, conseguiremos reduzir os preços e as filas, aumentando a produtividade e a competitividade dos produtos brasileiros", afirmou.

O ministro afirmou, no entanto, que ainda não está definido quem será o novo presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Brito fez questão de ressaltar que a escolha será técnica.