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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A cabotagem ainda está engatinhando

Navegação entre portos brasileiros deve crescer 6% este ano, mas ainda é pequena a utilização do modal quando comparada ao transporte rodoviário. Um dos inibidores da atividade é a reserva de mercado.

Como na música de Caetano Veloso, navegar é preciso. A frase, extraída de um poema Fernando Pessoa, nunca foi tão verdadeira como no caso da navegação de cabotagem. Hoje, segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), existem 17 navios operando com cabotagem em águas brasileiras. No total, incluindo navios graneleiros e químicos, menos de 150 embarcações realizam o serviço de ligação entre os portos nacionais, enquanto o número de caminhões nas estradas brasileiras chega a 1,4 milhão.

A expectativa do setor é que a baixa utilização do modal está prestes a sofrer uma guinada radical. Várias empresas, como a Transpetro, subsidiária da Petrobras, e a Log-In, ligada à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), já anunciaram a intenção de adquirir embarcações para operações de cabotagem. A razões do otimismo dos armadores e da indústria está no crescimento médio anual da ordem de 6% registrado pela atividade.

De acordo com o presidente do Grupo de Estudos Logísticos de Pernambuco (Gelpe), Oswaldo Moz, as cargas transportadas por cabotagem crescem ano a ano. No período entre os anos de 1999 e 2005, a movimentação saltou de 24 mil para 360 mil contêineres. Nos doze meses seguintes a movimentação permaneceu a mesma. Para este exercício, porém a perspectiva de crescimento do setor é de 6%. “A carência de equipamentos, em especial navios para realizar esse tipo de operação, é um fator limitante ao crescimento da cabotagem no Brasil. Também existem gargalos logísticos em vários portos do País, em especial na região Sul. Ali, a maioria dos portos tem equipamentos obsoletos e não existe espaço para ampliação de retroáreas”, observa Moz. Segundo ele, seriam necessários investimentos imediatos de R$ 1 bilhão para operar em condições satisfatórias.

No caso dos portos do Nordeste, existe ainda um outro fator limitante. O descompasso entre a chegada de contêineres cheios, vindos do Sul e Sudeste do País, e a saída de contêineres da região Nordeste, em grande parte vazios, também acaba refletido na oferta dos serviços de navegação. Um dos pontos centrais é o número de escalas reduzidas. O diretor da navegação da Log-In, empresa de navegação dedicada à cabotagem, Rômulo Otoni, confirma a posição do diretor do Gelpe. Somente em Pernambuco, em média, de cada 100 contêineres operados em Suape, 20 são vazios.

De acordo com Sérgio Kano, presidente do Tecon Suape - segundo terminal do País em operações de cabotagem -, a situação deverá mudar em breve. “Hoje grandes empresas estão se instalando em Pernambuco. A M&G montou aqui a maior fábrica de resinas PET do mundo. Isso aumenta o volume de cargas, tanto de longo curso como de cabotagem. À medida que os volumes da fábrica crescerem, a oferta de serviços também crescerá rapidamente”, comenta. Atualmente, cerca de 20% das linhas que passam pelo Tecon Suape são de navegação de cabotagem. São oferecidos 22 serviços mensais, com mais de cinco escalas por mês.

Um outro ponto destacado por Kano é o fato do empresariado do Nordeste estar descobrindo rapidamente as vantagens da cabotagem. Segundo ele, os custos em comparação com o transporte rodoviário tendem a ser inferiores, entre 10% e 30%, dependendo da distância entre o local de origem das cargas e o porto de embarque, bem como entre a distância percorrida pelo navio e o porto de destino, associado, ainda, à distância desse último e o ponto de entrega final da mercadoria. “Um caminhão cegonha carrega dez veículos. Já um navio pode trazer de uma montadora paulista, por exemplo, até dois mil carros. São 200 carretas a menos. A economia é imensa”, exemplifica.

Modal rodoviário responde por 61,8% do transporte de cargas no Brasil

Embora reconheça que existe uma tendência crescente da oferta de navios e serviços associados à cabotagem, Kano defende a idéia de que o País deveria abrir o segmento à operação de empresas estrangeiras por um período de tempo pré-determinado. “Em todo o mundo a cabotagem é protegida. Mas o Brasil quer proteger algo que não existia, foi destruída ao longo dos anos, e somente agora começa a ressurgir. Não é uma idéia de todo ruim adotar esse sistema até que as empresas brasileiras tenham navios suficientes para atender a demanda”, avalia.

O vice-presidente executivo do Syndarma, Roberto Galli, descarta esta possibilidade e diz que o Brasil possui embarcações em número suficiente para atender ao mercado. “São 17 navios de carga geral, incluindo contêineres, fora os demais segmentos que elevam esse número para mais de 100 embarcações. No País existem quatro empresas atuando com cabotagem. Além disso, há possibilidade da transferência de navios de longo curso para a cabotagem. Não existe o risco de um apagão na cabotagem. O que o País precisa é de investimentos em terra”, afirma. De acordo com Galli, como os portos foram relegados a segundo plano por muito tempo, o momento agora é de recuperar o tempo perdido. “O problema é mais de logística integrada do que de navios”, garante.

Como para corroborar as opiniões de Galli, a frota de cabotagem deve crescer significativamente nos próximos anos. Em setembro, o vice-presidente da República, José Alencar, anunciou que o Governo Federal tem intenção de elevar de 20% para 50% a participação da frota nacional no transporte aquaviário de cargas. Hoje, apenas 12% das cargas são transportadas por navios, muito embora o Brasil possua uma costa com cerca de oito mil quilômetros de extensão. Ainda em setembro, a Transpetro anunciou a encomenda de quatro embarcações destinadas a esse tipo de serviço.

A Log-In também anunciou investimentos no modal de cabotagem, mais especificamente no segmento de cargas contêineirizadas. Com cinco navios em operação, a empresa pretende investir US$ 350 milhões na construção de cinco embarcações, elevando a capacidade atual de transporte de 2,7 mil TEUS (unidade padrão para contêiner de 20 pés) para 4,5 mil TEUS. “Muito se fala sobre o risco de um apagão de cabotagem ou mesmo um apagão logístico no setor. Esse risco não existe. Assim como existem investimentos altos por parte de empresas armadoras, muitos terminais portuários também estão fazendo o mesmo. “O Tecon Rio Grande (RS) é um dos que estão ampliando os berços de atracação, assim como Navegantes (SC). Em Pernambuco, Suape ampliou um outro berço. Existem investimentos significativos sendo feitos, o que descarta a possibilidade de um apagão”, afirma Otoni.

Veja a participação da navegação no transporte de cargas no Brasil.

Fonte: Cais do Porto.com

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