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sexta-feira, 8 de maio de 2009

A LOGÍSTICA QUE APONTA PARA O FUTURO


Fernando Henrique de Almeida Sobral

A logística de ontem

O filme "Coração Valente", com o Mel Gibson, pode ser considerado uma referência para contraste da logística antiga com a dos dias de hoje, pois além de retratar as circunstâncias da logística militar daquela época, ainda deixa transparecer aspectos da dinâmica da distribuição de alimentos, ou do abastecimentos nas "cidades" feudais.

A aldeia era o ponto de encontro das pessoas e o local do comércio. As embalagens utilizadas eram os balaios, que não protegiam os produtos, não facilitavam em nada a armazenagem, e não tinham a menor adequação à movimentação, ou ao transporte. O mesmo era feito no lombo dos animais ou em carroças que pesavam várias vezes mais que as mercadorias. Para complicar, os caminhos eram esburacados, enlameados e extremamente precários.

O esforço para movimentar, transportar e armazenar os produtos era imenso. Além disso, ocorria o desperdício pelo erro de previsão das necessidades dos compradores e da falta de informação, o que deveria obrigar a um grande retorno de mercadorias não vendidas.

Se o índice de desperdício atual é alto, naquela época deveria se perder mais que 2/3 das mercadorias produzidas, pois não havia nenhum sistema de preservação de vegetais e víveres. Não era sem motivo que a fome imperava.

A logística de hoje

Apesar de parecer absurdo, ainda hoje, há vários lugares no mundo em que a distribuição está próxima ao do período feudal e algumas vezes o modelo atrasado não está muito longe de nossas casas.

No último ciclo de aulas na Politécnica, fiz uma retrospectiva da utilização das embalagens brasileiras, utilizando uma publicação, de 1998, da Fabrica de embalagens Toga,. Os cestos trançados de cipós, as pesadas barricas de madeira, o lombo do burro para transporte ainda são utilizados nos dias de hoje, não só nos mercados do sertão nordestino, mas até em alguns lugares da cidade de São Paulo.

Além dessas soluções serem rudimentares, muitas vezes o próprio processo de tomadas de decisão nas modernas empresas também o são.

Cinco anos atrás, ainda como cientista do IPT, participei de um documentário junto com estudantes de Comunicações da USP sobre os sistemas paletizados em São Paulo. Os estudantes saíram a campo para avaliar a utilização dos paletes na cidade e foram ao CEAGESP. Tamanha a surpresa. A movimentação era toda manual, sem nenhum motivo econômico, de escala ou técnico que justificasse esse contra-senso. Certamente nestes cinco anos nada mudou no CEAGESP.

O principal motivo para termos os custos logísticos elevados é a tomada de decisão de forma arbitrária. Algumas medidas no planejamento logístico devem ser adotadas, como por exemplo::

Localização de armazéns: Apesar de existirem inúmeras variáveis, estudos de localização de armazéns, plantas de produção, "cross docking" podem trazer redução representativa de custos. Muitas vezes estas localizações são completamente arbitrárias em número e posição. Os investimentos das empresas nos projetos realizados pela INTERLOGIS são rapidamente recuperados no início das operações.

Aquisição de equipamentos de movimentação: Geralmente, os gerentes e empresários não conseguem calcular o retorno no investimento nestes equipamentos. Por exemplo, um distribuidor de materiais de construção só percebeu o retorno no processo paletizado, após a aquisição de uma empilhadeira que permitiu a redução de perdas por quebras de telhas e cerâmicas. Com essa economia pode pagar o equipamento.

Avaliação de custo benefício do equipamento:: No momento de compra do equipamento, muitos gerentes avaliam somente os desembolsos iniciais, comprando o mais barato, sem verificar a política de pós venda das empresas fornecedoras, e seu serviço de manutenção e reposição das peças. Às vezes o barato sai caro.

Arranjo físico do armazém:: Tenho visto armazéns que uma única separação de pedidos demanda mais que um dia de oito horas de trabalho. Ou seja, cada produto a ser selecionado tem que ser literalmente procurado no amontoado de mercadorias. Não existe procedimentos e sistemas de gestão de estoque. O custo deste modelo de separação, onde as peças são endereçadas arbitrariamente no almoxarifado, inevitavelmente recai sobre os custos logísticos da empresa.

Concomitante aos modelos atrasados, há soluções bastante avançadas nos transportes rodoviários, aéreos e ferroviários, apesar das dificuldades encontradas na integração destes modos, ou seja, da multimodalidade,

No transporte internacional, existem boas soluções de multimodalidade, devido a utilização de sistemas contêinerizados. No transporte interno, soluções multimodais não tem tido crescimento, pois faltam empilhadeiras para movimentação de cargas unitizadas em paletes.

No transporte rodoviário uma melhoria para o carregamento paletizado ocorreu com a criação dos caminhões siders. Com relação aos caminhões baús faltam dispositivos como trilhos e roletes que facilitariam esse tipo de carregamento. Outras condições mínimas, como a resistência e regularidade do piso da carroçaria, são negligenciadas, o que impende a utilização dos carrinhos mecânicos.

Os paletes também precisam ser melhorados. Apesar do grande passo dado na sua padronização muitos resistiram a quebra do paradigma, que paletes não poderiam ser padronizados. Por um outro lado, os paletes de madeira são muito pesados sendo que na maioria das vezes estão super dimensionados.

Compare pelo olho da logística o desempenho de uma unidade com garrafas PET de 2 litros "shrinkada" em seis unidades, e um engradado de madeira com garrafas de 300 ml de vidro. É lógico, não iria ter Coca Cola para todo mundo.

Faltam pesquisas e pesquisadores, faltam recursos, falta vontade e tempo dos profissionais da área para melhoria dos sistemas.

Nos equipamentos de movimentação está acontecendo avanços, quanto aos aspectos ergonômicos e de propulsão. Apesar desses avanços a procura ainda está muito abaixo do que seria necessário. Conto sempre a história dos dois vendedores que vão prospectar a demanda de sapatos no nordeste. Um dizia que não tinha mercado porque ninguém usava, outro dizia que existia um grande mercado porque ninguém tinha.

É a mesma história nas empilhadeiras, ou porque não dizer também das consultorias logísticas, ou até na terceirização da operação logística. O Brasil é um mercado enorme que está para ser explorado.

Mas nem tudo é negativo, O nível de serviço ao cliente tem tido uma continua melhoria na distribuição dos bens de consumo não duráveis. Toda a cadeia de suprimento tem procurado agregar valor ao produto.

Na atividade primária, como a agricultura, as frutas e verduras tem sido trabalhadas no intuito de reduzir o transporte de resíduos desnecessário, como talos, cascas e folhas. Nos supermercados os alimentos estão sendo selecionados, e criam-se mix de frutas e verduras, descascadas, cortadas prontas para ser servidas como salada de frutas e embalados em quantidades ajustadas para uma única refeição,

Mas existem dois fatores que efetivamente tem alavancado a logística moderna. São a informática e a telecomunicação. Na informática os avanços estão nos sistema de gestão empresarial ou ERPs que somados as redes de computadores como a internet e os EDI através das telecomunicações estão agilizando o fluxo de documentos das empresas e reduzindo o ciclo do pedido.

O futuro - A busca da competitividade pela logística

Por que a logística vai crescer? Por que é a melhor opção para ter um diferencial competitivo. Inicialmente pensou-se que a empresa para ter competitividade e vender bem seus produtos eles precisariam tem um custo menor que o da concorrência. Descobriu-se mais tarde que qualquer coisa pode ser feito de pior qualidade e mais barato. Foi o período das porcarias capitalistas..

Aí o marketing teve a grande sacada, o produto além de ter um preço competitivo deveria ter uma qualidade diferenciada. Este foi o período do b&b, bom e barato. As empresas que atingiram essa meta precisaram divulga-la, pois não bastava a diferenciação, se faz necessário a promoção da empresa e do produto.

Surgiu após esse período a questão da propaganda e da marca. Não bastava o produto ser bom e barato, precisava ser conhecido pôr todos e vendido pôr uma boa marca. A idéia da propaganda e marca ficou sujeita a disponibilidade do produto. Não adianta haver só os luminosos do produto no ponto de venda, mas o produto deveria estar lá para ser comprado.

A disponibilidade é o marketing da logística. Hoje é sabido que os produtos tornaram-se "commodities". Eles possuem preços e qualidades compatíveis, e suas marcas estão na cabeça de todos. O desafio maior é colocar o produto na mão do consumidor.

Para ser eficiente em logística que precisamos de veículos adequados, de equipamentos de movimentação bem projetados, de agilidade na coleta de dados, da padronização dos equipamentos, embalagens e paletes, política de estoque e outros dispositivos, sendo vistas de forma integrada.

A logística do amanhã ela será vista de forma globalizada, onde as matérias primas serão compradas em qualquer local do globo, serão transformadas nas melhores empresas e vendidas onde existe mercado.

O fluxo logístico será plenamente visualizado e será fácil localizar os componentes no processo. O esforço contra o desperdício será tanto que tenderá a zero.

Quem busca a logística do futuro com competitividade, percebe que os caminhos percorridos pelos produtos serão os menores e transparentes, acontecendo dentro de uma forte integração entre movimentação, armazenagem e transporte. Os estoques devem ser reduzidos e racionalizados. Os dados serão coletados de forma fácil e rápida reduzindo ao limite o ciclo do pedido.

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